Abstract:
O trabalho parte de uma crítica a um ensaio recente de Philippe Lejeune, no qual ele define o diário como “antificção”. Mostra-se que não é possível se travar o que pode ser denominado de processo de ficcionalização, inerente a toda narrativa. Aponta-se para o fato de que desde o romantismo, mais e mais essa escritaespelho da autoescritura – sobretudo do diário – é performatizada. Para estudar a exuberância e a complexidade do diário, o trabalho apresenta uma análise do Diário de Moscou de Walter Benjamin, escrito no inverno de 1926-1927. Esse texto é apresentado como um verdadeiro ponto de partida para o trabalho das Passagens, que Benjamin realizou a partir de 1927. Mostra-se também a presença no texto de um trabalho “fisiognômico”, que busca fazer uma topografia de constelações “coisais”, tal como indica a expressão “O esplendor das coisas”, que Benjamin encontrou nos escritos de Siegfried Kracauer sobre Paris.