Resumo:
Uma grande variedade de títulos de composições e de depoimentos atribui ao tango uma sensibilidade queixosa, nostálgica e melancólica. A música de Astor Piazzolla não é indiferente ao tom geral, e ele reconhece uma espécie de autotortura, que associa à experiência pessoal com a figura paterna e ao sentimento geral de desenraizamento resultante da imigração. A análise histórica conecta as expressões musicais e poéticas do tango a tendências culturais significantes na sociedade argentina. O sentimento de perda e a melancolia que o traduz obsessivamente são uma constante em representações produzidaspor intelectuais e artistas em resposta às tensões da ordem social que remontam à modernização do período 1880–1930. Parecem compor por um lado a afirmação de uma identidade popular e nacional e por outro aquilo que Paul Ricoeur chama de “memória enferma”.