Resumo:
Os ataques desferidos contra o gênero bolero no final dos anos 1950 no Rio de Janeiro, sob os auspícios da bossa nova, foram desfechados com base em uma argumentação que criticava o gosto musical do público. Em anos anteriores, a argumentação proclamava a necessidade de defesa do nacional popular como forma de resistir à difusão de música estrangeira. Indiferente às duas linhas de argumentação, a apropriação do gênero bolero proliferou, tendo na dança de casais uma das suas formas mais evidentes, e revelou a força da cultura local e nacional, que, apesar de uma oposição por vezes consistente, foi capaz de reelaborá-lo e absorvê-lo. A análise focaliza “Que será”, de Marino Pinto e Mário Rossi, e “Dois pra lá, dois pra cá” de João Bosco e Aldir Blanc, duas variantes autóctones do bolero de estilos e épocas diferentes.