Descrição:
"Quando fui informado de que Rejane Mendes Moreira de Almeida Magalhães havia sido incumbida de escrever um trabalho sobre a vida de Rui Barbosa na Vila Maria Augusta (a mansão da rua São Clemente, onde Rui residiu de 1895 até falecer), nem por um instante duvidei da boa qualidade do resultado. Porque se trata de uma pesquisadora que tem paixão pelo maior dos baianos, o que a levou a ler tudo o que sobre ele se publicou e a anotar meticulosamente os 130 tomos até hoje editados das suas Obras Completas.
Embora organizado sem maiores preocupações técnicas, o fichário resultante dessas leituras e anotações é precioso e tem sido muito útil a toda a Casa. É comum o Setor Ruiano receber consultas a respeito de frases e conceitos de Rui, proferidos nas mais diversas ocasiões, em cinquenta anos de vida pública. Graças às fichas de Rejane, as consultas hoje podem ser respondidas, por assim dizer, imediatamente.
Como se esse cabedal de conhecimentos não bastasse, para escrever este trabalho ampliou ela suas leituras, voltou a percorrer as diversas biografias de Rui, pesquisou artigos de jornal, depoimentos verbais, cartas íntimas e manuscritos existentes no Arquivo da Casa, tarefa em que foi ajudada por Eni Valentim Torres.
O resultado é o volume que aqui está, cuja principal característica é a base documental. Rejane não avança uma informação, um conceito, uma opinião, sem dar a fonte. Sua preocupação de autenticidade às vezes chega a ser excessiva. Mas isto está longe de constituir um defeito.
Em suas páginas vamos encontrar não o Rui jurista, político, diplomata, grande orador e jornalista, mas, ao contrário, o homem Rui Barbosa, com seus hábitos domésticos, suas roupas, sua maneira de tratar a mulher e os filhos, suas preferências, suas idiossincrasias e as coisas de que realmente gostava no dia a dia da vida.
Mais do que uma biografia, é, na parte que interessava à pesquisa, o resumo de várias biografias e estudos sobre o Conselheiro. Como era o seu café da manhã? Quais os pratos de sua preferência? Que remédios costumava tomar? A que divertimentos ia com maior frequência? Quem eram seus amigos mais íntimos?
A tudo isto e a muito mais a autora responde com precisão e clareza. Trata-se, em suma, da petite histoire de Rui Barbosa. Mas, como sempre acontece, esses dados miúdos da vida quotidiana de um grande homem ajudam-nos a compreendê-lo melhor e a ver aspectos da sua biografia que os estudiosos preocupados em erguer-lhe a estátua nem sempre revelam.
É de justiça salientar a prestimosa colaboração que, na redação do texto e na montagem final dos capítulos deu à autora a colega Miriã Pinheiro.
Da dedicação e do esforço dessas competentes pesquisadoras resultou um trabalho que de certo modo completa a imagem do patrono que esta Casa, criada para cultuar-lhe a memória, tinha obrigação de oferecer ao público.
Além da de Rui, uma figura emerge destas páginas, com o porte, a desenvoltura e a distinção de uma grande dama: dona Maria Augusta, âncora do coração e do caráter do marido, como ele próprio a definiu, vida e alma do solar de São Clemente, no largo período que vai dos fins do século XIX até 1923. E é grato verificar como as vidas dessas duas criaturas se entrelaçam por tão longo tempo, compondo um lar que era um dos centros mais notórios de irradiação e convergência da vida social e política do Brasil na Primeira República."
Rio de Janeiro, julho de 1989, Homero Senna.