Resumo:
"DURANTE LONGO TEMPO, A HISTORIOGRAFIA TRATOU o processo histórico brasileiro como se
fosse uma rua de mão única, com um sentido obrigatório: o da realização de uma espécie de
"destino nacional", que passava por formas sucessivas de organização política e econômica. Os
fenômenos que porventura escapassem a esse curso central perdiam por isso a possibilidade de
se tornarem inteligíveis; como ruídos que interferissem na música, eram colocados à margem do
processo. É o caso dos movimentos sociais rurais que ocorreram no Brasil entre 1870 e 1920.
"Existiam" apenas na medida em que eram considerados obstáculos à consolidação da República, ou do progresso: definiam-se pela negativa. Nos últimos anos, esses movimentos vêm atraindo outro tipo de atenção, e motivaram uma série de trabalhos que procurou levar em conta a sua diferença cultural específica, sem reduzi-la aos nossos próprios critérios de construção da realidade (cf. Queiroz, 1977; Della Cava, 1975; Monteiro, 1974 e 1978). "
Descrição:
"Este artigo é resultado de meu trabalho como pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa. Uma
primeira versão foi elaborada como monografia de bacharelado apresentada ao Departamento de História
da PUC-RJ (1983); versões posteriores foram apresentadas no IX Encontro Anual da ANPOCS (1985) e
como trabalho do curso "Problemas de análise etnológica", do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social do Museu Nacional. Gostaria de agradecer as sugestões e críticas recebidas dos
membros do grupo de trabalho "Pensamento Social no Brasil", da ANPOCS; de Ilmar R. de Mattos, José
Murilo de Carvalho, Luiz Guilherme S. Teixeira; Marcos Bretas, Margarida de Souza Neves, Otávio
Guilherme Velho, Roberto da Matta, Rubem César Fernandes, Wandyr Hagge e, muito especialmente, de
Ricardo B. de Araújo. Publicado na Revista Religião e Sociedade, 13/2, julho de 1986."